terça-feira

Se fosse criada hoje, a zona do euro poderia incluir o Brasil

Em análise irônica, Goldman Sachs mostra que Brasil, China e Finlândia seriam alguns dos poucos países com situação fiscal equilibrada para integrar o grupo Ana Clara Costa

Moeda e cédula de Euro Países do euro não cumprem regras fiscais de criação do bloco (Dan Kitwood/Getty Images)
Na última semana, um dos principais economistas do Goldman Sachs, Jim O’Neill, enviou aos clientes do banco uma análise curiosa – e irônica. Diante da crescente chance de calote da dívida grega, O’Neill afirmou que, caso a União Europeia fosse criada nos dias atuais – e permitisse a entrada de membros de outros continentes – os poucos países com situação fiscal aceitável para tanto seriam Brasil, China, Coreia do Sul, Finlândia, México e Indonésia.
O economista, que trabalhou durante muitos anos no banco JP Morgan, é célebre por ter criado o termo Bric para classificar as economias emergentes que despontavam na década de 1990 – Brasil, Rússia, Índia e China. Desde então, esses mercados têm sido seu principal foco de análise. Segundo ele, quando a zona do euro foi criada, em 1998, o estatuto previa que um dos requisitos básicos para que um país europeu integrasse o grupo era o tamanho de seu déficit nominal (resultado da arrecadação menos despesas do governo, incluindo os gastos com o pagamento de juros da dívida pública). Neste caso, tal déficit não poderia passar de 3% do Produto Interno Bruto (PIB). As regras também previam que os países deveriam ter políticas severas de redução do déficit. Ambos são pontos que foram delimitados no critério de Maastricht - criado justamente para justificar a união dos países europeus.
Pois bem: treze anos depois, quando se observa a situação fiscal dos países da zona do euro, apenas a Finlândia possui um déficit nominal (de 1,4% do PIB) que se encaixa nesse critério. Segundo o levantamento de O’Neill, baseado em dados da Eurostat, a média do déficit nominal nos países do euro é de 5,1% do PIB. Países como Alemanha e Áustria não estariam tão longe da meta, com 3,6% para ambos. No entanto, a França passaria longe de ser aceita – com um déficit nominal de 6,6% do PIB. “Isso mostra que o bloco não está funcionando de acordo com suas próprias regras”, escreve o economista em sua análise.
Entre as nações emergentes, Brasil, China, México e Indonésia também poderiam se candidatar, de acordo com a análise hipotética de O’Neill. O Brasil, com 2,6% do PIB de déficit nominal em 2010 (data da pesquisa da Eurostat), ainda ficaria atrás da China, com 1,6%, Indonésia, com 2%, e Coreia do Sul, com 0,4%. "Colocando de lado a geografia, há muito pouco que justifique hoje uma união como essa", afirma o economista em seu relatório. Obviamente, O'Neill desconsidera em sua análise todo o fator político que envolve a criação do euro - considerado até mais importante do que o próprio fator econômico. No entanto, não há como negar que, com sua ironia, o questionamento do economista levanta um aspecto nebuloso do problema: o de que até que ponto a questão política continuará justificando a existência do bloco.

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